quinta-feira, 22 de março de 2007

Dia Mundial da Poesia




Não podia deixar passar este dia sem homenagear todos os Poetas de Portugal, conhecidos e não conhecidos, mas que se interessam pelas letras e nos dão a ler palavras maravilhosas e que nos levam a viver num Mundo mais colorido...

Deixo tambem um link muito interessante sobre um Programa onde se divulga a Poesia e é dita numa voz magnifica , na voz do Luis Gaspar autor do Programa Estudio Raposa.

http://www.estudioraposa.com/index.php?id=188

Fui-me perdendo nos passos, nos acordes e compassos desta música... e cantei-a dancei-a... com todos os que foram visitando estas páginas ao longo destes dias... Uns com passos breves, outros com passos demorados, arrastados, impulsionados, desistidos, recomeçados, mas todos com paixão: a paixão das palavras e dos momentos, dos sonhos e dos pensamentos, das ilusões e dos desenganos, das promessas e das realidades... e até da saudade...A todos, com quem falei, deixo uma rosa...a Rosa da Amizade.


Solta-se-me a voz...como se solta sempre o amor
Solta-se a dor...como se solta sempre no amor
Prende-se a vozcomo se solta sempre a agonia
rasgam-se os nós
que a garganta em nó prendia
Volto do fim
como se volta sempre que se acaba
volto pra mim
de mãos vazias ... coração com nada
Da dor fiz um fado e cantei-o
com notas de ciume e pecado.
Desse amor, na dor mal amado,
criei um som e dancei-o
Arrastei-me na agonia e chorei-o
em passos lentos... sufocada
A rosa que em meu cabelo tinha estado
Agora prendo-a no peito, eu sei-o!
Oiço teus passos na calçada...
Numa ultima dança de emoção
atiro-te a rosa na multidão
rodopias breve e desinteressado...
agarro-te com a força musicada
deito-te na sombra do meu coração
Este som vais ter de cantar,
chorado com lágrimas de fado!
Rodopias uma vez mais no ar
a meus pés olhas-me, ajoelhado
Finges que me beijas... o olhar...
ofereces a boca... sinto-me beijada
atiro-te no vazio do luar
e puxo-te outra vez pra meu lado
devolves-me a rosa do pecado
que teus passos gritam na escuridão
em que mostras teu corpo cansado
Comigo levo a rosa da ilusão
Choro, grito e soluço este fado
e sangro nos espinhos da canção...

Continuação de Boa Poesia...

Mila

terça-feira, 20 de março de 2007

A Noite em Alfama - Lisboa


Grande Noite do Fado


O Fado


O Fado é um sopro vibrante que a voz recebe da alma. É um lamento de se trazer um excesso vital dentro do peito. Um excesso de dor, de alegria, de utopia e das várias emoções vividas. Fado é a expressão máxima do sentimento de se estar vivo. Cada pessoa encarna um destino, uma forma e uma emoção única e pessoal; simultaneamente comunga com as outras pessoas muitas realidades. O Fado tem portanto uma dimensão pessoal e uma dimensão colectiva. Fala da contingência e da fatalidade de se existir, de como se vive e de como se morre. Fala do encontro do simples e do transcendente no coração de cada um.

O Fado apareceu em Lisboa, por volta de 1840, das canções dos marinheiros para as dos rufias. Cantava-se nas tascas, nas ruas, nas hortas, nas esperas de gado. Em 1850, era também, já cantado no Porto.A Lisboa da época, ainda muito rural, era palco do fenómeno emergente do crescimento urbano, pela migração dos campos para as cidades. O Fado é portanto a expressão de uma nova forma de vida e de sociabilidade. Recebeu influências artísticas várias; das canções dos marinheiros, dos camponeses, das sonoridades árabes das mourarias, dos lamentos e dos ritmos africanos, das danças da moda e do folclore tradicional. Pelo seu valor conquistou a Aristocracia e começou a ser cantado nos salões e festas. São referências desta época Maria Severa e o Conde de Vimioso.


Depois da queda da monarquia, o Fado continuou durante a república. No Estado Novo houve uma certa apropriação pelo regime, como forma de propaganda. Salazar tinha o mote "futebol, fado e Fátima" como desígnio para Portugal. Esta apropriação afastou muita gente do Fado por o conotar com o regime. No entanto a ditadura acabou e o Fado continuou. Eram fadistas de referencia nas primeiras décadas do século XX Alfredo Marceneiro, Fernando Farinha. Amália Rodrigues é o nome incontornável do Fado de então e que trouxe o Fado até aos dias de hoje.Cantora eximia, levou o Fado a todo o país e além fronteiras. Cantou em português e em várias outras línguas. Cantou Fado Antigo e Fado Novo, letras populares e os grandes poetas. Escreveu e cantou letras e músicas próprias. Manteve boas relações com o regime sem lhe pertencer.

A sua carreira, de mais de 50 anos, foi uma vida dedicada ao Fado, que abriu o caminho para o futuro e a uma nova geração interessada e activa. São fadistas seus contemporâneos na segunda metade do século XX: Maria Teresa de Noronha, João Ferreira Rosa, Lucília do Carmo, Carlos do Carmo, Vicente da Câmara, Maria da Fé, entre outros.São nomes da nova geração: Mísia, Mariza, Camané, Mafalda Arnauth, Ana Sofia Varela, Ana Moura, Cátia Guerreiro, entre outros.


Hoje o Fado é reconhecido como canção nacional e até como imagem de marca. Uma nova geração está a dar-lhe continuidade e tem querido inovar.Inicialmente cantado nas tabernas, o Fado é hoje cantado por artistas profissionais em salas de concertos e por amadores, adultos e crianças em colectividades e associações por todo o país e junto das nossas comunidades no estrangeiro.
Hoje há muita gente a cantar o Fado, o antigo e um novo, inovado no estilo e na musicalidade. Parece-me que nos encontramos numa encruzilhada e que a questão é: como é que o Fado, que surgiu ainda na época romântica, será de hoje em diante, recriado nesta época contemporânea, tão diferente, sem cristalizar, mas também sem o descaracterizar ou extinguir?

segunda-feira, 19 de março de 2007

sexta-feira, 16 de março de 2007

Contigo quero aprender...

Óleo de E.L.

Contigo quero aprender o que é a unidade,

A ouvir o que não chega a ser dito,

Sentir o que tu pensas

Saber o que tu sentes

Contigo quero aprender a saber de mim,

a saber de ti!

Aprender a conhecer teu silêncio,

A entender teu dicionário mudo,

Apenas pelo calar...

Não preciso de palavras para saber de ti...

E sei que tu também não precisas delas

para me entenderes, pois,

quero acreditar no que sentimos...

Contigo quero aprender...

A respeitar o mistério que nos une

A força que nos comanda,

E a energia que sentimos...

de termos uma sintonia

Contigo quero aprender...

o valor de sermos um e sermos dois...

de sermos dois e sermos um...

É um estar juntos mesmo separados,

Numa integridade única,

De quem sabe o que quer e o que sente...

Contigo quero aprender

Que ainda tenho muito que aprender...

Que vamos encontrar a nossa realidade.

E rir, e amar, e vivermos o nosso amor,

Pois tudo isso é maravilhoso...

E que cada drama é só nosso modo de ver a vida,

Só está nos mostrando aquilo que estamos criando

Contigo quero aprender a acreditar no nosso amor...

Mas nem sempre é fácil...



2007/03 - E.L.

quarta-feira, 14 de março de 2007

A minha Paleta de Cores... a minha caixa de tintas!


Entre muitas paixões na minha vida a pintura foi sempre presente. Agora resolvi arranjar uma caixinha de pintura onde não falte cor nenhuma e com elas vá enchendo a minha tela ou papel de amor e ternura!Quando a abri pela primeira vez era como se estivesse a abrir um tesouro ! Olhei-a e vi que tinha todas as cores, cores brilhantes, cores doces e meigas.Tinha o vermelho para pintar a paixão , o preto para pintar a tristeza e o desgosto que a paixão e amor por vezes arrastam consigo! Tinha o amarelo para pintar as areias quentes, os girassois as tulipas e as rosas ,
o laranja para pintar o pôr do sol a deitar-se sobre o azul do mar e dos céus! Azuis de várias tonalidades para preencher todo o horizonte!O verde para pintar campos e jardins, o castanho para pintar ninhos e as folhas velhas a caírem das àrvores!O Cor-de rosa para pintar os sonhos e o carinho do abraço de uma criança!Tinha o branco , a cor mais usada da minha caixa...peguei nela espalhei-a pela tela queria pintar a Paz! Mas essa é a mais difícil de pintar! Porque a paz é algo tão fugidio , o mundo vive em constantes agitações.O nosso coração também vive sempre ansioso, em conflito ou com medos! Por isso não fui capaz de pintar a Paz!Mesmo assim vou enchendo a tela de cores , dando formas, criando sonhos e fazendo crescer fantasias...Com a minha Caixinha de pinturas e com a minha Paleta de cores vou criando um mundo mágico como uma criança que brinca ao faz de conta. Eu também viajo entre tintas e pincéis, vejo o outro lado do mundo com o meu olhar ora sereno, ora agitado! Mas é a minha forma de ver o mundo...e deixar entrar a luz em meu coração!Bem, as minhas telas estão a chamar por mim...sentem saudades do meu jeito desajeitado...estão cansadas de estar fechadas e não serem usadas... Todo o ser humano e todos os objectos querem ser tocados , é uma forma de se sentirem desejados e úteis ! Tenho andado longe delas!!!Vou dar-lhes carinho e enchê-las de cores fortes e doces!...
E.L.2007/03

terça-feira, 13 de março de 2007

Tu és Assim!

Desenho de E.L.
És como a chuva precisa para arar a terra
não diz quando vem, nem quanto tempo vai durar.
Vem de surpresa e quando chega consegue deslumbrar
O verde fica mais verde, os pássaros cantam sem parar,
a vida ganha vida assim como o rio ganha o mar.
Vem devagarinho e sai de mansinho,
sem ruído, nem diz quando vai voltar,
deixa no ar um cheiro que se mistura na terra.
O tempo passa e mesmo assim não vejo a hora
de voltares, para mais uma vez encantares - deslumbrares.
Então, como alguem na terra,
fico a pensar, à tua espera,
Que chegues novamente sem barulho
e sem pressa de voltares...
E.L. 2007/03

segunda-feira, 12 de março de 2007

Entre os dedos como areia...




Sou pedra e água.

Ou apenas o rumor

Da língua na escalada da palavra.

Ou estes morros sobranceiros

Catedrais visíveis apenas em inocentes mãos.

Em forma de asa.

Sinfonia muda.

Claro-escuro em cada silaba.

Como o som dos ventos

Que na noite se encandeiam.

Sem os vermos.

Nem o destino cobramos.

Rente estilhaçar nas formas

Apenas pressentidas.

E guardadas na memória.

Apenas rima.Não poema.

Serpente mordendo a própria cauda.

Que outra glória?! - nem bússola, nem guia!

Apenas o declinar da aurora

E a tarde pura.E a límpida palavra

Esgravatada na fundura.

De silêncios plena.

Sede e água cristalina entre os dedos.

Como areia...


M. 2007/03

domingo, 11 de março de 2007

O Meu Silêncio!

Aguarela de M.

Quando uma voz se cala, pior é o
Silêncio que não fala!
Tão Simples. Rápido.
E quanta força.
Imediatamente me veio à cabeça situações
em que o silêncio me disse verdades terríveis,
porque se sabe, o silêncio não é dado a amenidades.
Um telefone mudo.
Um e-mail que não chega.
Um encontro onde nenhum dos dois abre a boca.
Silêncios que falam sobre desinteresses,
esquecimento, recusas.
Quantas coisas são ditas
na quietude, depois de uma discussão.
O Perdão não vem, nem um beijo,
nem uma gargalhada para acabar com esta tensão.
Só ele permanece imutável, o silêncio, a ante-sala do fim.
É mil vezes preferível uma voz que diga
coisas que nós não queremos ouvir, pois
ao menos as palavras que são ditas indica
muma tentativa de entendimento.
Cordas vocaisem funcionamento articulam argumentos,
expõem as suas queixas, jogam a limpo.
Já o silêncio arquitecta planos que não são compartilhados.
Quando nada é dito, nada é combinado...
Quantas vezes existem situações em que o silêncio
é bem vindo. Para alguém que vive no meio do ruído,
o silêncio é um bálsamo.
Para uma Professora de meninos, o silêncio é um presente.
Mesmo no Amor, quando a relação é sólida e madura,
o silêncio a dois não incomoda, pois é o silêncio da Paz.
O único Silêncio que perturba é aquele que fala.
E fala alto.
É quando ninguém bate na nossa porta,
não há recados na caixa do telemóvel e mesmo assim
se entende a mensagem!
M. 2007/03

terça-feira, 6 de março de 2007

Nas Asas da Memória!


Folheio, com a devida reverência, um alfarrábio de 76 anos (Antologia de poemas, de Augusto Gil, 1923 – Livraria Bertrand, Lisboa) publicado ainda em vida do então muito popular escritor português. A simples leitura do título do poema Balada na Neve abre-me uma grande janela na memória.


"Batem leve, levemente,
Como quem chama por mim...
Será chuva? Será gente?
Gente não é certamente
E a chuva não bate assim..."

Inexplicavelmente e com facilidade, posso dizer de cor estes e os outros versos do poema. Vejo, ainda, a cena da infância evocada com uma clareza assustadora: fim do ano lectivo. Festa. Presença dos pais e autoridades (directoria do Colégio, pároco, professores) A menina de 8 ou 9 anos, sobe ao palco e recita Augusto Gil

"É talvez a ventania;
Mas há pouco, há poucochinho,
Nem uma agulha bulia
Na quieta melancolia
Dos pinheiros do caminho...
Quem bate assim levemente,
Com tão estranha leveza
Que mal se ouve, mal se sente?...
Não é chuva, nem é gente,
Nem é vento, com certeza.
Fui ver a neve caia,
Do azul cinzento do céu,
Branca e leve, branca e fria...
-Há quanto tempo a não via!
E que saudade, Deus meu!
Olho-a através da vidraça
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
Os passos imprime e traça
Na brancura do caminho...
Fico olhando esses sinais
Da pobre gente que avança,
E noto, por entre os mais,
Os traços miniaturais
Duns pezitos de criança...
E descalcinhos, doridos"...

Chorando copiosamente, a menina não consegue terminar o poema. O pároco acode, sobe ao palco, dizendo-se emocionado com a emoção da menina que continua a chorar...
Vingada, a memória apagou de vez o poema. Nem título, nem autor, nem um só verso puderam ser lembrados nos posteriores 30 e poucos anos. Agora, como se uma disquete fosse inserida na memória, o poema ressurge, verso, após verso, mas... (e aqui entra o factor que só ao humano pertence) só até ao exacto texto que provocou aquela emoção da menina diante do infortúnio infantil.
Busco no livro a parte final que a memória novamente recusa

"E descalcinhos, doridos...
A neve deixa inda vê-los,
Primeiro bem definidos ,
-Depois em sulcos compridos,
Porque não podia ergue-los
Que quem já é pecador
Sofra tormentos... enfim!...
Mas as crianças, Senhor,
Porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...
E uma infinita tristeza,
Uma funda turbação
Entra em mim, fica em mim presa,
ai neve na natureza...
E cai no meu coração."

Apagaram-se alguns versos na memória, mas a menina ficou irremediavelmente fatalizada para a poesia.
Essa menina fragilizada e sensível só pode
ser quem vos escreve!
Postado por M.

segunda-feira, 5 de março de 2007

Reflexo

Desenho de M.A.
Reflexo
Num sonho meu, sonhei-te num espelho, onde o reflexo era eu. No fundo dos meus olhos vi os teus, e nas minhas mãos, descobri a essência de duas almas imperfeitas, que buscam em si, a metade perdida nos caminhos da eternidade.Na minha imagem sonhada, que és tu, li o seguimento da minha história, e encontrei o capítulo que faltava no livro inacabado que o Universo escreveu por linhas tortas. No teu rosto, encontrei a Luz de um sorriso lindo, que é a continuação do meu, quando penso em ti.No semblante que se desdobra em dois, nasce o impulso simultâneo da carícia, floresce o desejo ardente de união das duas partes incompletas. A ternura entrelaça-se nas mãos que se procuram, a doçura derrama-se nos lábios sedentos, os corpos entregam-se ao prazer da sintonia eterna que os abraça, fazendo a magia do Amor acontecer. Juntos, fazemos o encanto deste sonho a dois......tornar-se em pura realidade...

M.A. 2007/3


Encanto sem rosto...

Pintura de Rosto por M.A.

Encanto sem rosto...

Trespasso a névoa que me turva o olhar e solto-me numa outra dimensão, onde os limites são nenhuns, escondo a alma de mim própria e deixo o corpo à vista, para que não percebam a minha ausência momentânea, esfumo-me nos caminhos que aprendi a percorrer, para ir ao teu encontro.Na força do Amor, invento-te, leio-te os traços, escrevo-te os contornos, e tu, ditas-me palavras cheias de ti, frases que emanam o teu cheiro e me fazem fervilhar as veias adormecidas. Oiço ecos surdos que me acariciam a pele, transpiro ideias e momentos que me despertam a leveza do ser e me colam inexplicavelmente a ti, mesmo sabendo que não existes para além das minhas fantasias.Quando sinto a realidade chegar, de mansinho consigo tocar-te por um fugaz instante, cessando o sonho. Nas mãos, trago pedacinhos da tua essência e no coração, a certeza que estarás sempre aí, com a magia espelhada no teu olhar sem rosto, que me fascina e inspira de cada vez que saio de mim, e secretamente, me vou aninhar em ti...

Escrito por M.

Amor Intrinseco...

Desenho de M.A.
Amor Intrinseco...

Amor intrínseco... o que será?
Será aquele que se quer preservar?
Ou aquele que dentro do peito se tem que guardar?
Pode ser simplesmente o que nos faz sonhar...
Sim, sonhar durante anos a fio,
Sem que se possa sobre ele confessar.
Sonhar sem querer acordar
Para não ter que novamente ele ocultar.
Um dia, porém, quando do sonho se desperta,
Vê-se que o mundo está coberto de flores,
Como um tapete mágico, aquele de mil amores.
Por que será? Será que já podemos conversar
E revelar o que ainda pensávamos ter que guardar?
Não!, já será o tão sonhado ato de amar...
M.A. 2007/01

As Cores da Vida

Aguarela de M.A.

CORES DA VIDA



Sigo colorindo a vida
Com a paleta que escolhi.
Não sei se fiz a escolha correta.
Só sei que, com ela, sobrevivi.
Cobram-me atitudes diversas,
Exigem de mim mais do que posso dar.
Estarão certas essas pessoas,
Ou serei eu, que não me canso de pintar?
Um dia, quando meus cabelos brancos se tornarem,
Terei, finalmente, a resposta.
Aquelas pessoas, entretanto, onde estarão?
Quero ter tempo de provar-lhes que comigo estava a razão,
Que as cores que escolhi foram perfeitas
Para o mundo imperfeito onde nasci.

M. A. 2007/02

Silêncio

Oléo de M.A.

Silêncio

Fiz uma pausa e pousei o livro, deixei-o aberto à mercê da brisa que sopra da tua voz que me chama e encanta. Fascinada, sigo o meu querer, não me impeço de correr sob a cor azul do céu dos meus sonhos e poiso no conforto dos teus braços abertos que me enlaçam. Despertas-me os anseios, em carícias ardentes que as tuas mãos me oferecem, movidas pela sintonia mágica que flúi para além de nós. O desejo que escorre dos teus lábios húmidos dá-me a provar o sabor doce e quente da nossa paixão. Incendeio fantasias no fogo da tua língua que é um Sol imenso que me derrete os sentidos e me inflama deliciosamente a pele. Num olhar teu nos olhos meus, entreabres sensações profundas que guardo em mim, enlouqueces-me, enfeitiças-me e absorves por completo a minha alma para dentro da tua.No grito sussurrado convidas-me ao êxtase do Amor, levas-me ao momento em que o palpável deixa de o ser e o mundo à nossa volta não existe, as bocas beijam e calam... No silêncio que abraça o livro, deixo as palavras que não escrevo...

Fevereiro 2007 - M.A.

Ecos da Alma...

Tela de M.A.
Ecos da Alma

A saudade que sinto de Ti
Chora a ausência das tuas mãos...
Implora
No dedilhar das melodias
E confidencia
A voz de um piano
O som que me eleva
E me acaricia
Devolve-me a calma
Ecos Sentidos na minha alma
Ausências Silêncios
Meus dedos clamam
Os arrepios do amor...
M. A. 2007/02

domingo, 4 de março de 2007

Breves que somos...

Tela de M.A.
Breves Somos...
Nesta voz em que o cansaço se intromete corre ainda
licor de velhos sons matinais - fantasias e orações!
como se o tempo te cobrisse de malmequeres e o orvalho
brincasse em teus lábios na inocência dos dias por abrir...
A lucidez nocturna qual vela acesa que em teus olhos
se ilumina e essa mítica palavra de pescarias plena
como onda distendida de teu corpo
na branca insónia que em lençóis alvos se desenha...
A vida (que outra coisa nos resta?!) é flor carnívora
que de palavras e de gestos e de poemas se alimenta
e em teu dom se cumpre altaneira e neste encontro
margens e rio se rendem - breves que somos!...
M. A. 2007/03

Outro dia

Desenho de M.A.


Outro dia

O acordar tarde
a lembrança difusa da dúvida
sonhei?
ela existe?
a imaginação faz o resto,
mas faz mal.
porque não consegue
evitar o sofrimento
a lembrança difusa da dúvida
ela existe?

Escrito por H. M. em 2007/03

sábado, 3 de março de 2007

Amar demais...

O Beijo Tela de M.A.

teu peito abriga

local

de nosso encontro mais íntimo

pernas que se enlaçam

encaixe mais que perfeito do verbo amar

bebida na minha língua

com o grito solto na raiz



o repouso, essa ternura no teu pescoço

é de curta duração

porque o cheiro é doce a chuva quente

e minha boca por ti lavada


montas a garupa dos meus lábios

levas-me pela seiva que de mim escorre

e vejo cúmplices teus olhos


são beijos com sabor a mel

os achados na cabana do nosso Amor

templo soberano do prazer maior



no aroma raro e mágico do incenso dos nossos poros

soltam-se nuvens de carinho

alucinadas pelo nosso perfume

vicio de desejo sonhado

em noite fria e escolhida

para te amar secretamente...





Palavras de M. A. / Ordenamento de H. M.2007/02

O Tempo






sob os meus dedos um sinal de fogo

a labareda que consome a tarde

a geada que se espalha nos cabelos

e como um lenho velho o tempo arde



posso escrever a monografia lenta

do vento nos gemidos de um moinho

a esmagar a semente do tédio

devagar segregando mistérios


posso evocar o riso adolescente

soltar as tranças do primeiro beijo

tecer grinaldas de leves açucenas

deixar que as pálperas se fechem

sob o sol dourado do desejo


posso pintar o céu de alazões rubros

despertar vendavais nos nossos dias

posso inventar a síntese do ciúme

a raiz quadrada da inquietude

o almiscarado desejo do teu corpo


lavrar o incêndio último dos corpos

e depois deixar que a neve cubra tudo

do mais branco silêncio


Palavras de M.A./Ordenamento de H.M. 2007/03